O problema do endividamento empresarial e algumas possíveis soluções

29/04/2020

Gerir uma empresa não é algo simples, ainda mais no Brasil onde a instabilidade política e a alta carga tributária dificultam, e muito, essa gestão. Em tempos de crise, então, essa dificuldade aumenta ainda mais. Sendo esse exatamente o momento em que estamos passando hoje em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19).

Para vislumbrar o tamanho do problema pelo qual os empresários estão passando, basta observar o número de desempregados que está passando da casa dos 13 milhões. Esse é um grande termômetro para verificar o desaquecimento do mercado já que os primeiros cortes realizados quando as finanças são pressionadas é no quadro de funcionários.

Ocorre que nem sempre cortes na folha de pagamento e redução de determinadas despesas fixas são suficientes para resolver problemas financeiros decorrente de uma crise, evitando, assim, o endividamento. Às vezes até mesmo as empresas mais bem organizadas e com finanças saneadas podem acabar se endividando, seja por fatores macro ou microeconômicos.

Mas isso não é o fim do mundo, é possível passar por períodos de turbulência com disciplina e muita organização.

Os três tipos de dívidas mais comuns no universo empresarial são com fornecedores, governo (tributos) e com bancos.

No presente artigo vamos avaliar cada uma delas e te ajudar a entender como dar a volta por cima.

 

Dívidas com fornecedores

Um dos maiores erros dos empresários que possuem dívidas com fornecedores é “esquecer” a dívida, o famoso “deixar como está pra ver como é que fica”. Isso é um grande erro e pode prejudicar - e muito - o seu negócio. Esperar que os fornecedores venham cobrar ao invés de se antecipar e dar o primeiro passo acaba passando a impressão de desorganização financeira, além de ausência de preocupação com o tema, quebrando, desta forma, a relação de confiança entre as partes.

É preciso ter em mente que o fornecedor é um parceiro fundamental do seu negócio e que ter essa relação prejudicada por causa de um problema pontual pode trazer graves problemas para o futuro da relação. Então não espere a cobrança chegar, se antecipe!

A sugestão aqui é manter um controle muito eficiente do fluxo de caixa projetado para saber com precisão em que momento o caixa será pressionado. Caso em algum momento seja identificado que a empresa não conseguirá honrar os compromissos, essa é hora de entrar em contato com o fornecedor e conversar.

O aviso com antecedência demonstrará ao fornecedor cuidado com a relação e boa vontade para a solução do problema. Também tornará muito mais simples a negociação já que mostrará a sua predisposição para buscar uma saída e o cuidado com a relação comercial existente.

Além disso permite ao fornecedor que também avalie o seu próprio fluxo de caixa a fim de se programar, afinal ele também possui responsabilidades e despesas a honrar com seus parceiros e fornecedores. É um efeito dominó.

Caso os efeitos dessa crise pontual sejam muito grandes, sugerimos que você faça uma avaliação de quais são os fornecedores fundamentais para a continuidade do seu negócio, priorizando a negociação e o pagamento destes, inclusive, dependendo da situação, convocando esses parcerios para tratar o assunto pessoalmente. Isso poderá ser um diferencial.

A vantagem da reunião é a proximidade entre as partes. O contato mais próximo propicia que seja gerada empatia e aumente muito as chances de um acordo positivo. Mas é preciso ter em mente que se trata de uma via de mão dupla e que o fornecedor não é responsável pela sua situação financeira, ou seja, é natural que ele exija os encargos contratados pelo descumprimento das obrigações assumidas. Esteja preparado para isso.

 

Dívidas com o governo

Dívidas de empresas com o governo são muito comuns, sejam elas de tributos federais, estaduais ou municipais.

Um dos principais problemas gerado pela ausência de pagamento de impostos é que a sua empresa não conseguirá emitir as chamadas certidões negativas de débitos tributários, muitas necessárias para garantir o relacionar com o mercado. Tal fato indica ainda para fornecedores, credores e empresas de crédito que você possui dívidas não negociadas com o governo, dificultando a tomada de crédito, a participação em licitações e até mesmo de sua empresa realizar compras com alguns fornecedores. Um péssimo negócio.

A boa notícia, porém, é que os governos, independente do âmbito, propõem regularmente o refinanciamento dessas dívidas, oferecendo grandes atrativos financeiros para quitação, como isenção do pagamento de multas e juros, além de normalmente conceder parcelamentos a perder de vista, os chamados Refis

Vale aqui lembrar que a inadimplência fiscal, diferentemente da sonegação fiscal, não é considerada crime e quando muito pode ser lida como uma apropriação indébita.

O cumprimento correto de obrigações tributárias é muito importante para que a sua empresa não seja surpreendida com a cobrança de multas e encargos moratórios que poderão até mesmo inviabilizar a continuidade do seu negócio. Por isso sugerimos que você acompanhe de perto o trabalho realizado por seu contador e conte com o apoio de profissionais habilitados para garantir a regularidade desses compromissos.

 

Dívidas com bancos

Grade parte do lucro dos bancos é proveniente da cobrança de juros sobre capital emprestado. Para as empresas isso muitas vezes se torna um pesadelo já que a falta de gestão financeira adequada pode levar a necessidade de captar dinheiro rápido e as linhas de crédito mais acessíveis são justamente as que possuem os juros mais caros, como cheque especial (rotativo) ou cartão de crédito.

O problema é que quando a sua empresa está endividada com bancos, a experiência mostra que só com muito esforço e disciplina ela irá reverter esse quadro. Essa afirmação pessimista ocorre pois, dentre outras questões, os contratos bancários possuem cláusulas que autorizam a cobrança de juros de forma exponencial que com o passar do tempo, e não precisa de muito, se tornam impagáveis.

É aquilo que popularmente chamamos de cobrança de “juros sobre juros” ou mais tecnicamente, cobrança de juros capitalizados com periodicidade inferior a um ano e que desde 2015 é legalmente permitida pelo Superior Tribunal de Justiça (súmulas 539 e 541).

Ocorre que normalmente essa situação de “calamidade financeira” causada por dívidas bancárias decorre de decisões equivocadas tomadas pela falta de gestão financeira e de conhecimento dos produtos bancários disponíveis no mercado, alinhadas, vale dizer, ao interesse escuso de muitos gerentes de contas que figuram como verdadeiros vendedores e não como profissionais especializados em planejamento financeiro (pelo menos é dessa forma que muitos bancos apresentam os seus gerentes em suas propagandas).

Ou seja, para fugir desse “problemão” o importante é você tentar conduzir o seu negócio sempre contando com o apoio de profissionais especializados para te ajudar a tomar decisões mais acertadas que, geralmente, são diferentes daquelas ofertadas pelo seu gerente.

Mas se a sua empresa está endividada com bancos, saiba que existem sim caminhos para, com planejamento, reverter essa situação. Para tanto o primeiro passo é reconhecer que erros possam ter sido cometidos e se empenhar na busca de soluções, que passam pela elaboração de um plano de pagamento considerando o seu fluxo de caixa, pela renegociação prioritária das dívidas cuja cobrança de juros são maiores e, principalmente, pelo cumprimento dos compromissos assumidos.

Pode ocorrer também que o tempo tenha passado e a sua empresa já esteja sendo cobrada na justiça pelos bancos para pagar as dívidas existentes. Neste caso, a melhor opção será contratar um advogado especializado na área para que ele encontre alternativas jurídicas para reversão desse cenário, defendendo a sua empresa judicialmente, mas sempre com olhos na construção de um ambiente favorável para que juntos vocês consigam solucionar amigavelmente essa questão.

 

Conclusão

Bem, estar endividada é algo que pode acontecer com qualquer empresa, de qualquer segmento e de qualquer porte. A diferença está em saber como e quando agir para solucionar esse problema que, embora complexo, possui solução.

É importante ter em mente que existem técnicas e estratégias para se fazer negociação de dívidas e que muitas vezes contar com a ajuda de um profissional pode ser determinante para o sucesso da investida (sobre esse tema sugerimos a leitura de artigo respectivo postado nesta coluna).

Alguns profissionais da área jurídica além de possuir conhecimento das técnicas de negociação ainda agregam muito com o conhecimento da legislação e podem auxiliar o empresário na elaboração de propostas, contratos e, no pior dos casos, situações que sejam litigiosas.

O importante é não hesitar e enfrenta o problema do endividamento de frente!

 

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