“Direito e Literatura: da realidade da ficção à ficção da realidade” – breves comentários sobre a obra - Por Paulo Silas Taporosky Filho

17/12/2017

“Direito e Literatura: da realidade da ficção à ficção da realidade” é um livro maravilhoso. Intersecções pontuais entre o direito e a literatura. Tem-se tanto o direito a partir da literatura como a literatura a partir do direito. Os diálogos que são construídos com base em tais conexões, via transdisciplinaridade, abordando diversas temáticas ligadas ao(s) tema(s), são coesos, concordes, uniformes, ricos e profundos. O apanhado muito bem construído que é trazido ao leitor acarreta numa transmissão de conteúdo de forma singular. Encanto é o que a leitura proporciona. 

Os autores responsáveis pelos diversos artigos que compõem a obra sabem muito bem sobre o que estão falando, sendo tal fato facilmente perceptível quando da análise da obra. 

O livro é dividido em três partes, cada qual com uma forma própria de abordagem da intersecção proposta: "A Realidade da Ficção", "A Ficção da Realidade (Brasileira)" e "Direito Com Literatura". Assim, em diferentes contextos ou em variadas análises é que o conteúdo da obra é transmitida ao leitor. 

Grandes nomes da literatura e, consequentemente, os clássicos na escrita literária ganham relevantes comentários e análises na obra. Kafka, Steinbeck, Balzac e muitos outros têm suas obras estudadas por um viés calcado no e pelo direito. 

André Karam Trindade e Henriete Karam tecem considerações sobre "o processo de humanização, a submissão à lei e a adesão ao pacto social" com base nas desventuras de Pinóquio. Já Gustavo Oliveira Vieira e Jose Luiz Bolzan de Morais fazem uma análise do direito em Balzac ao tecerem "especulações interdisciplinares". Há também a brilhante exposição de Lenio Luiz Streck e Rafael Tomaz de Oliveira acerca da reafirmação da autonomia do direito no capítulo "A "secura", a "ira" e as condições para que os fenômenos possam vir à fala: aportes literários para pensar o estado, a economia e a autonomia do direito em tempos de crise", onde é realizado um apanhado histórico, basilar e epistemológico acerca da construção do direito e como o é atualmente, o que evidencia os sofismas presentes nas tentativas de dissuadir o direito como algo autônomo. Tudo isso e muito mais, pois, como mencionado, vários são os autores que contribuem para o brilhantismo da obra em seus dezesseis capítulos. 

Conforme conclui Lenio Streck no "post scriptum" do livro, "a literatura pode ensinar muito ao direito", pois tanto o direito como a literatura lidam com a ambiguidade da linguagem. A linguagem e sua construção, sua narrativa, sua análise, é o mote que dá o sustentáculo da obra. A questão de se debater o direito e a linguagem, "essa angústia que assalta o homem desde a autora da civilização", encontra amparo quando se analisado pelo viés da literatura. Eis a premissa que alavanca a difusão de ideias que corrobora para com uma melhor compreensão de tal questão transdisciplinar, pois, ainda nas palavras de Lenio Streck, "esta imbricação do direito com a literatura é um verdadeiro tesouro jusfilosófico". 

Vale muito a leitura!

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

STRECK, Lenio Luiz; TRINDADE, André Karam (Org.). Direito e literatura: da realidade da ficção à ficção da realidade. São Paulo: Atlas, 2013.

 

Imagem Ilustrativa do Post: An open book // Foto de: Dineshraj Goomany // Sem alterações

Disponível em: https://www.flickr.com/photos/dgoomany/4976873820

Licença de uso: http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode

O texto é de responsabilidade exclusiva do autor, não representando, necessariamente, a opinião ou posicionamento do Empório do Direito.

Sugestões de leitura